Suicídio, hora de falarmos sobre o assunto.
O dia dez de setembro é marcado como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Durante todo o mês, denominado Setembro amarelo, diversas atividades e campanhas são feitas para conscientizar as pessoas de como identificar um potencial suicida e como ajudar esta pessoa.
A psiquiatra Dra. Thiele Geller, que é especialista em psiquiatria da infância e adolescência fez um material para ajudar a entender um pouco mais sobre esse comportamento.
Definições
- Suicídio: Ato de causar intencionalmente a própria morte;
- Tentativa de Suicídio: Atos ou preparações não fatais para resultar na morte. O ato pode ter sido abandonado, interrompido ou sem êxito.
Diferenças entre Tentativa de Suicídio e Automutilações
Tentativa de Suicídio:
- Intenção de por fim a vida;
- Sentimentos crônicos de desesperança e solidão;
- Formas mais severas e letais ;
- Risco de recorrência é menor que nas automutilações.
Automutilação:
- Sem intenção suicida;
- Sentimento agudo de raiva, desespero ou sofrimento intolerável;
- Formas menos severas e na maioria não letais;
- Ciência que pode causar sérios danos, mas não são fatais;
- Recorrência de automutilação é comum.
- Algumas autolesões não suicidas podem resultar em morte por ignorância ou erro de cálculo.
Métodos frequentes de autolesão
- Overdose de drogas;
- Envenenamento;
- Corte;
- Bater, beliscar, arranhar, morder, queimar;
- Atirar em si;
- Enforcamento;
- Pular de lugares altos ou em poços, pontes.
Epidemiologia
- Mais de 800.000 pessoas morrem por suicídio a cada ano ;
- 1 morte a cada 40 segundos;
- 2012 – 2ª principal causa de morte entre 15 e 29 anos no mundo;
- Taxas de suicídio informados não incluem Tentativa de Suicídio;
- Tentativa de Suicídio ocorrem 10 a 20 vezes mais frequente;
- Maiores taxas de suicídio são em idosos nas últimas décadas;
- Suicídios completos mais comuns em homens – de 4 ♂: 1♀ em adolescentes;
- Tentativa de Suicídio – mais comum em mulheres.
Suicídio completo em crianças pré-púberes é muito raro!
- Crianças são capazes de entender o conceito de suicídio a partir dos 8 anos;
- Taxas baixas de suicídio em crianças – menor exposição a fatores de risco ou maior proteção por relação familiar estreita.
Fatores de risco
Principais Fatores de Risco de Suicídio entre Adolescentes
- Tentativa de Suicídio prévia;
Psicopatologia:
- Transtorno de depressão maior DM, Transtorno do Humor Bipolar, Transtorno Conduta e Transtorno de uso de Substância Psicoativa;
- Traços de personalidade disfuncional;
- Desesperança e desvalia;
- Agressividade impulsiva: tendência de reagir a frustração ou provocação com hostilidade e agressão.
Fatores familiares:
- História familiar de depressão ou suicídio;
- Perda de pai/mãe por morte ou divórcio;
- Discórdia familiar.
- Abuso físico ou sexual;
- Falta de rede de apoio, relação ruim com pares e sentimentos de isolamento social;
- Assumir-se ou lidar com sentimentos homossexuais em ambiente não suportáveis;
- Disponibilidade de meios letais;
- Ter sido exposto a suicídio (suicídio ou Tentativa de Suicídio na família ou amigos, mídia);
- Pré-adolescentes – estressores familiares são mais significativos;
- 30% dos suicídios completos tem história de Tentativa de Suicídio;
- Após Tentativa de Suicídio, o risco para nova Tentativa de Suicídio é 20 vezes maior;
- Transtornos psiquiátricos em 80 a 90% dos suicídios;
- Distúrbios do sono no início da adolescência;
- Efeito desinibitório da intoxicação aguda (sob efeito de drogas);
- Automutilações aumenta risco de suicídio em100 vezes;
- Pobreza;
- Estressores: Bullying, dificuldades escolares, alto nível de competitividade no ambiente escolar, encarceramento.
“Síndrome pré suicida”
Caraterísticas:
- Sentimentos de desesperança, culpa, solidão e de incompreensão;
- Negativismo e autopiedade;
- Autoagressividade;
- Fantasias e planos suicidas;
- Disforia;
- Sintomas somáticos, distúrbios do sonos, fadiga e perda de apetite;
- Menos comum em crianças e adolescentes – suicídio mais impulsivo.
Comportamento suicida
Para a crise tomar conta requer:
- Predisposição: distúrbios mentais;
- Gatilho: algo que faz sentir-se infeliz, com medo ou com raiva;
- Facilitador: álcool e/ou drogas, identificação com alguém que cometeu suicídio, suicídio na família/amigos, falta de crenças religiosas;
- Oportunidade: acesso ao meio para o suicídio.
Avaliação fatores de risco
Indicadores de Risco de Suicídio Agudo – Características de Tentativa de Suicídio anteriores
- Método violento;
- Planejamento claro;
- Baixa chance de ajudar ou de intervir Tentativa de Suicídio quando isolado, longe de outrem, evitar ser encontrado, não avisar ninguém do ato suicida) ;
- Pessoas foram informadas da intenção suicida, carta suicida;
- Desejo claro de morrer, expresso sem alívio sobre ainda estar vivo.
Avaliação do risco
- Risco de suicídio não é estático;
Risco baixo de suicídio:
- Ausência de transtorno psiquiátrico presente;
- Paciente consegue formar aliança terapêutica adequada;
- Não existe real intenção de morrer;
- Paciente afirma clara e confiavelmente que uma nova Tentativa de Suicídio não acontecerá;
- Tem esperança sobre o futuro e tem objetivos concretos em relação ao seu engajamento em atividades diárias;
- Apoio social e familiar estável;
- Sem estressores significantes presentes.
Tratamento do comportamento suicida
Princípios gerais:
- Adesão ao tratamento;
- Envolvimento ativo do paciente e dos pais;
- Proteger paciente de estressores;
- Apoio à família;
- Serviços de apoio emergencial;
- Alívio de demandas excessivas;
- Tratar T. psiquiátrico;
- Monitorizar recorrência de comportamento suicida;
- Plano de emergência para crise aguda;
- Sessões de tratamento flexíveis;
- Comunicação efetiva entre profissionais envolvidos ;
- Manejo ideal – continuam de serviços: intervenção de emergência, tratamento ambulatorial, domiciliar e hospitalar;
- Primeiro passo – certificar-se que o paciente está seguro e recebendo apoio.
Hospitalização:
- Se o RS é alto, principalmente se não há alternativas para assegurar a segurança do paciente;
- Tentativa de Suicídio recente, principalmente se necessitou cuidados médicos intensivos;
- Não há possibilidade de estimar com segurança o RS.
Manejo Agudo do Comportamento Suicida
Risco Alto ou alta probabilidade ou baixa confiabilidade na avaliação:
- Assegurar que o paciente está em ambiente apropriadamente seguro;
- Organizar reavaliação em 24 horas;
- Organizar tratamento contínuo e monitorização de perto;
- Fazer plano de contingência para rápida reavaliação se angústia ou piora dos sintomas.
Risco Moderado:
- Organizar reavaliação em 1 semana;
- Fazer plano de contingência para rápida reavaliação se angústia ou piora dos sintomas.
Risco Baixo:
- Organizar reavaliação em 1 mês;
- Reavaliar em 1 semana se alta de internação;
- Fornecer informação escrita sobre acesso de 24 horas para atendimento clínico adequado.
Intervenções psicossociais:
- Promover busca por ajuda;
- Organizar apoio ao paciente;
- Estratégias para melhorar relação do paciente com os pais;
- Terapia Cognitivo Comportamental;
- Terapia Multissistêmica.
Tratamento Farmacológico:
- Não existe medicação específica para suicidalidade;
- Tratar distúrbios psiquiátricos subjacentes.
Prevenção
Recomendações para professores e funcionários de escolas :
- Estudantes com pensamentos suicidas dão as pessoas ao redor avisos.
É fundamental:
- Identificar distúrbios de personalidade e oferecer apoio psicológico;
- Laços mais estreitos através de conversas;
- Aliviar sofrimento emocional;
- Atenção a comunicação suicida – verbal e/ou mudanças de comportamento;
- Ajudar alunos com dificuldades escolares, atenção a evasão escolar;
- Desestigmatizar doença mental e ajudar a eliminar o uso indevido de SPA;
- Encaminhar para tratamento de doenças psiquiátricas ;
- Restringir o acesso a meios de suicídio – drogas tóxicas e letais, pesticidas, armas de fogo e outras armas, etc;
- Acesso de professores e outros funcionários a meios de aliviar o estresse no trabalho.
Recomendações para Profissionais da Mídia:
- Educar a população sobre suicídio;
- Evitar linguagem que sensacionaliza ou normaliza o suicídio, ou apresentar como solução para problemas;
- Evitar colocar em destaque e repetir indevidamente histórias sobre suicídio;
- Evitar descrições explícitas do método ou local do suicídio ou Tentativa de Suicídio;
- Cautela com as manchetes;
- Cuidado ao usar fotos e vídeos;
- Cuidado especial ao relatar suicídio de celebridades;
- Profissionais da mídia podem ser afetados por histórias de suicídio;
- Demonstrar a devida consideração por pessoas enlutadas por suicídio;
- Fornecer informações sobre onde procurar ajuda.
Dra. Thiele Geller
Psiquiatra da Infância e Adolescência